Trunfo dos protestos é trazer à tona a ética da indignação"
O reitor e professor da PUC, padre Josafá Siqueira, realizou a palestra “A ética vai para as ruas” nesta segunda-feira (11/11), na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). Na ocasião, o acadêmico defendeu que é preciso atentar para o vandalismo, que seria um "grande perigo". Para ele, é importante ainda separar o joio do trigo nas manifestações. “Existe a planta verdadeira e a planta falsa misturada. Precisamos separá-las porque quando estão juntas a interpretação dos fatos é mais difícil”, declarou.
Josafá é autor de mais de 60 artigos sobre o tema. Ele ressalta que o conceito de ética vai muito além do discurso: é a ciência prática. Segundo ele, é exatamente isto que vem acontecendo nas ruas desde junho. No entanto, é preciso ter cuidado com a violência.
“O vandalismo é um grande perigo. Não somos um país que montou seus costumes através da violência. Não temos essa história, nem essa cultura”, explicou. Segundo ele, a “cultura de violência” se instala quando a ética não se fundamenta pela razão e, portanto, não forma costumes nacionais. Josafá disse ainda que “práticas contraditórias” estão presentes entre o movimento, revelando hábitos opostos aos discursos.
Para o padre, o grande trunfo dos movimentos atuais é trazer à tona a ética da indignação. “Você acredita em uma instituição e ela falha. Acredita em alguém e ela é corrupta. A indignação não é mais pessoal, é da sociedade”, disse. Graças à indignação, os cidadãos se tornaram mais intolerantes, quebrando o que Josafá chama de “cultura da iniquidade”. Segundo ele, essa cultura é uma das razões que fazem com que pessoas se acostumem com os erros. “A sociedade estava apática. Se você é professor hoje em dia, tem que fazer um esforço dobrado. Os alunos não perguntam, não questionam”, explicou.
O estado letárgico se modificou nas ruas e o impressionou. O que se vê agora é um impasse entre desencanto e esperança. Josafá alerta que é preciso analisar se a força que veio em junho é fogo de palha ou fogo de manta. O reitor, que é professor de biologia, explica: "o fogo de palha é aquele que se espalha pelo vento e tem curta duração, enquanto o de manta é mais longo e queima a vegetação por baixo, chegando à raiz. Precisamos saber se é fogo de palha e se, daqui a alguns meses, toda a corrupção voltará a circular ilesa.”

No comments:
Post a Comment