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Sunday, January 26, 2014

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As indecências de Marin

O presidente da CBF promove uma série de trapalhadas à frente da entidade e manipula as verbas do futebol brasileiro para garantir a eleição de seu sucessor

Enquanto os torcedores começam a se adaptar aos novos estádios e os jogadores se organizam em nome do bom senso cada vez mais distante de nossos gramados, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e seu presidente, José Maria Marin, colecionam bolas fora. A última trapalhada veio a público na semana passada. A CBF enviou uma minuta de contrato, por e-mail, à Associação Portuguesa de Desportos condicionando a liberação de um empréstimo de R$ 4 milhões, pedido pelo clube, à renúncia à briga para disputar a série A do Brasileirão. É real o temor da CBF de que uma guerra de liminares na Justiça Comum possa inviabilizar o campeonato, mas isso não justifica que uma entidade com o tamanho da Confederação Brasileira de Futebol formule uma proposta tão indecente. O que pode explicar tremenda desfaçatez é o fato de que essa “picaretagem”, como definem os dirigentes da Lusa, está longe de ser uma ação isolada no currículo de José Maria Marin, que já foi flagrado até colocando no bolso uma medalha que seria entregue aos campeões da Copa São Paulo do ano passado.
À frente da CBF, Marin mantém as práticas de seu antecessor, Ricardo Teixeira, que renunciou para não ter o patrimônio investigado por organismos internacionais. Dirigentes do futebol de três Estados disseram à ISTOÉ que Marin maneja os cofres da CBF para sufocar tentativas de oposição ao seu projeto à frente da entidade. Segundo eles, os valores repassados às federações, por exemplo, não levam em conta apenas o futebol, mas, principalmente, o grau de fidelidade ao atual comando da CBF e a disposição em votar no candidato de Marin para a sua sucessão: o presidente da Federação Paulista, Marco Polo Del Nero. Segundo os dirigentes ouvidos por ISTOÉ, o uso da máquina garante a Del Nero o apoio de cerca de 70% das 27 federações. Junto com os 20 clubes da série A, elas formam o colégio eleitoral da CBF. “Marin usa a pura política do cabresto”, resume um presidente de clube.
As poucas federações que resistem à influência de Marin sofrem no bolso. É o caso da federação gaúcha, comandada por Francisco Novelletto Neto. Há nove anos, os gaúchos não recebem um centavo da CBF. Mesmo adotando um discurso recente de evitar debates públicos, Novelletto Neto confirma o boicote que se perpetua desde a gestão de Ricardo Teixeira. “Depois de pedirmos quatro vezes (o repasse) para esta gestão, eles me procuraram há três ou quatro meses para fazer um acordo e voltar a pagar”, diz. “Eu não aceitei. Ou paga o valor dos nove anos ou nada feito”, comenta.
Fora da CBF, Marin também coleciona polêmicas. Em junho, veio à tona a informação de que ele expandiu uma de suas propriedades se apropriando do terreno de uma praça na capital paulista, avaliado em cerca de R$ 2,5 milhões. Flagrado, esquivou-se e jogou a culpa sobre a locatária do imóvel, uma concessionária de automóveis. A empresa, no entanto, rebateu as acusações. Fotos comprovaram que, antes de a concessionária se instalar no local, a propriedade de Marin já avançava sobre o patrimônio público. A área, aliás, havia sido alvo de outros problemas junto à prefeitura paulistana. Fato que não causa surpresa levando em conta que Marin foi acusado até de usar indevidamente a energia elétrica de um vizinho para abastecer a sua residência onde mora em São Paulo.
Tantas bolas fora levaram à participação de mais de 50 mil pessoas em um abaixo-assinado que pede a saída de Marin do comando da CBF. Um dos pontos levantados no documento é a colaboração do presidente da confederação com a ditadura militar. Familiares de vítimas do regime condenam, entre outros, os elogios proferidos pelo então deputado estadual de São Paulo Marin ao temido torturador Sérgio Paranhos Fleury em 1976. “É uma vergonha nacional um homem como este (Marin), com um passado político vinculado ao regime militar e a agentes da repressão, ocupar um cargo como este”, comenta Ivo Herzog, filho do jornalista assassinado pela ditadura Vladimir Herzog e um dos organizadores do abaixo-assinado. No Palácio do Planalto, a ligação de mandatário da CBF com os militares é vista como uma das razões de a presidenta Dilma Rousseff evitar recebê-lo até em reuniões para tratar assuntos da Copa do Mundo. Apesar da pouca receptividade do governo federal, Marin, governador de São Paulo entre 1982 e 1983 após a renúncia de Paulo Maluf, conta com prestígio no meio político. Atualmente, ele é presidente de honra do PTB Esporte.
Ao oferecer a proposta indecente à Portuguesa, Marin indiretamente admite que foram trapalhadas da própria CBF que ameaçam a realização do Brasileirão. Em um lance de amadorismo, o site da entidade, que deveria publicar a lista de atletas suspensos antes das partidas, só informou a punição quando o campeonato já havia encerrado. “O Ricardo Teixeira (ex-presidente da entidade), pelo menos, tinha uma qualidade: sabia que não entendia e aí não se metia”, diz um dirigente. “O Marin acha que sabe e faz lambança.” E ele não pensa em dividir a bola com os adversários.




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