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Friday, January 17, 2014

LAGOSTA, DÓLARES E CAVIAR - Em meio à crise, o governo Roseana Sarney encomendou lagosta. Criticado, substituiu o pedido por caviar. A governadora (ao lado do ministro José Eduardo Cardozo) entregou a administração dos presídios do estado ao amigo e sócio da família que, em 2002, a socorreu quando a PF encontrou 1,3 milhão de reais na sede da empresa de seu marido

Horror nas cadeias pode destronar clã Sarney no MA

Desgastada pela crise nos presídios e pela onda de ataques nas ruas, Roseana Sarney agora hesita em deixar o governo para disputar o Senado

Uma crise na área de segurança pública pode comprometer os planos de qualquer governante em ano eleitoral. Em 1992, o massacre no presídio paulista do Carandiru, uma rebelião que terminou com 111 detentos mortos, tornou-se marca indelével na trajetória do então governador Luiz Antonio Fleury Filho, que hoje amarga o ostracismo político. Neste ano, a grande questão no cenário eleitoral do Maranhão é se as mortes bárbaras ocorridas dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas – com decapitações e esquartejamentos – e fora dele, com ônibus incendiados e uma menina de 6 anos queimada viva, terão impacto para destronar um grupo político que governa o Estado há quase meio século.
Os três candidatos de oposição à governadora Roseana Sarney (PMDB), filha do senador e ex-presidente da República José Sarney (PMDB), são ligados ao Judiciário e a bandeiras dos direitos humanos. O mais conhecido deles é o ex-juiz e ex-deputado Flávio Dino (PCdoB), atual presidente da Embratur, que tentou unificar os partidos de oposição à gestão Roseana numa votação plebiscitária “anti-Sarney”. Também deverão concorrer a deputada estadual Eliziane Gama (PPS) e o advogado Luis Antonio Pedrosa (PSOL). Os dois presidem comissões de Direitos Humanos no Maranhão – ela na Assembleia Legislativa, ele na seção local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
A família Sarney pretende lançar na disputa Luis Fernando Silva (PMDB), atual secretário de Infraestrutura de Roseana. A governadora conta com o apoio do PT, que indicou o vice-governador e tem secretarias no primeiro escalão. Porém, no próprio PT a questão é controversa. Desde 2010, parte do diretório estadual não aceita o acordo com a família Sarney, mas a ordem vem de cima: a presidente Dilma Rousseff exige a manutenção da aliança – com apoio dos Sarney, ela obteve 79% dos votos no Maranhão na eleição passada. Quando a crise no sistema prisional se amplificou, Dilma se apressou em socorrer os Sarney: enviou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao Maranhão. A incursão de Cardozo, que apareceu nas imagens de TV ao lado de Roseana anunciando uma parceria vaga entre os governos federal e estadual, ajudou a aplacar a crise e tirar o Maranhão do noticiário nacional.
O PT hoje é nosso parceiro, tanto nacionalmente como no Estado”, afirma o líder do PMDB na Assembleia Legislativa, deputado estadual Roberto Costa. “A possibilidade de reeditar a aliança é muito forte.” Costa diz que a candidatura de Luis Fernando Silva terá ainda os apoios de DEM, PTB, PSD, PV e uma série de legendas nanicas.
Trio – Por causa da intervenção da direção nacional do PT na disputa em 2010, o comunista Flávio Dino afirma que não mobilizará a estrutura do PCdoB pelo apoio dos petistas. “Tem que deixar o PT decidir no tempo dele, já que a decisão é nacional mesmo. Se o PT vier, vai ser muito bem-vindo”, diz ele. “É uma contradição absoluta um partido que se autodenomina dos trabalhadores apoiar o último dos coronéis brasileiros.”
Em sua conta, Dino soma o apoio dos partidos Solidariedade, PDT, PP, Pros e o PTC, do prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Júnior, cuja candidatura foi apadrinhada por ele. Em uma jogada que interfere na disputa presidencial no Maranhão, Dino prometeu ao vice-prefeito de São Luís, Roberto Rocha (PSB), a vaga na chapa para disputar o Senado.Roseana afirmou em entrevista coletiva que o Maranhão “vai muito bem” e que uma das explicações para a crise violenta é que “o Estado está mais rico”. O governo maranhense comemorou no ano passado ter ultrapassado, por 17 reais, o pior PIB per capita do país, ostentado agora pelo Piauí (7.835 reais). O Maranhão tem o segundo pior (7.852 reais). Roseana desgastou mais sua imagem ao vir à tona a informação de que ela iniciou a compra de lagostas, uísque e caviar para o bufê do Palácio dos Leões. Das janelas do prédio histórico, a governadora assistiu a uma passeata que pedia “a devolução do Maranhão” – seguida de um pedido de impeachment protocolado por advogados que militam em ONGs de Direitos Humanos.
“A violência é lamentável, mas há uma ligação direta entre o que acontece dentro e fora da penitenciária com o sistema político implantado, que está totalmente comprometido com o patrimonialismo”, critica Dino.
De 2010 a 2013, os homicídios em São Luís e na Região Metropolitana aumentaram 62% - de 499 para 807 casos, no ano passado. O crack invadiu o interior do Estado (39 cidades declaram ter nível alto de problemas pelo consumo da droga, segundo a Confederação Nacional dos Municípios). A violência tira a tranquilidade do hábito nordestino de sentar na frente de casa para prosear com os vizinhos à tarde.
O funcionalismo público, principalmente no setor da Segurança, reclama da falta de estrutura e principalmente de pessoal. O governo tenta concluir um concurso aberto em 2012 para 2.400 vagas de policiais militares e civis. Em meio à onda de violência, a gestão Roseana passou a exibir na TV uma propaganda em que apresenta como inovação uma central de videomonitoramento instalada no segundo semestre de 2013, em São Luís.
O sindicato dos agentes penitenciários (Sindspem) aponta a terceirização como o fator que fragilizou a segurança e permitiu a barbárie no Complexo Penitenciário de Pedrinhas. O governo maranhense contratou duas empresas para controlar os presídios, a VTI Tecnologia da Informação e a Atlântica Segurança Técnica – que tem como representante Luiz Carlos Cantanhede Fernandes, sócio do marido da governadora, Jorge Murad, em outra empresa.O clã Sarney também enfrenta dificuldades em negociações com parlamentares aliados. No ano passado, Roseana perdeu o ex-delegado e deputado estadual Raimundo Cutrim, que se rebelou da base e migrou direto para a oposição – no caso, o PCdoB. A insatisfação com o valor de emendas parlamentares no “bloquinho”, um grupo minoritário de deputados que não aderiram oficialmente à situação nem à situação, atrasou a votação do Orçamento de 2014 na Assembleia Legislativa.
Até a crise chegar ao Palácio dos Leões, em janeiro, o plano de Roseana era disputar uma cadeira no Senado, o que a obrigaria a deixar o governo até o começo de abril, prazo exigido pela Lei Eleitoral. Mas os planos estão parados. “Existe uma indefinição por parte dela”, diz Roberto Costa, líder do seu partido na Assembleia. Ainda é cedo para dimensionar o tamanho do desgaste provocado pela selvageria de Pedrinhas no capital eleitoral dos Sarney. Mas já é possível afirmar, segundo políticos maranhenses e assessores do Palácio do Planalto, que o grupo enfrentará sua mais complicada eleição em décadas de hegemonia.

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