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Thursday, March 27, 2014

Chega de dieta

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A vida tem dessas. Por uma razão ou outra, a gente engorda. Lentamente, de repente. A criança gordinha engorda mais ainda, a magrinha muda de figura. A mãe dá à luz e não recupera o peso e a atleta que engorda ao parar de treinar – ou mesmo treinando. Acontece.
Acontece. E quando menos percebe, você está lá, se escondendo na hora da foto com os amigos, evitando ir à praia. Querendo sair para pedalar, mas se sentindo feia nas roupas de ginástica. Adiando a compra de roupas novas até a perda de peso. Deixando um bom pedaço da vida pra depois – depois, quando o peso baixar.
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E aí você se motiva, faz uma dieta. Perde um pouco de peso, compra umas roupas novas. Recebe muitos elogios. Mas, antes de chegar ao peso que você queria, acaba engordando de novo. Você fica frustrada, se sentindo miserável. Não se reconhece no espelho, pensa que a verdadeira “você” está ali debaixo das dobrinhas, daquela zona de conflito ao redor da cintura. Você tem receio de começar outra dieta e falhar novamente. Mas a família enche o saco, as amigas estão sempre falando de dieta. Você sente a pressão. Então você tenta de novo. E o ciclo se repete. Algum emagrecimento, vontade incontrolável de comer certos alimentos, episódios de perda de controle, ganho de peso, reinício da dieta. Para 95% das pessoas, a perda de peso que advém desse ciclo não é duradoura. Muitas ganham mais peso do que tinham no início. Por quê?
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A verdade é que não foi você quem falhou. Sim. A dieta é quem falhou com você. As pessoas que disseram que perder peso era simplesmente questão de disciplina e força de vontade é que falharam com você. Ninguém disse que seria tão difícil, ninguém disse que as taxas de sucesso eram irrisórias. E, principalmente, ninguém disse que não era necessário. Que, em termos de beleza, tem espaço pra todo mundo, todo tipo de corpo. E que, em termos de saúde, dá pra ser saudável em qualquer tamanho. Por que ninguém disse nada disso? É uma boa pergunta. Uma das respostas possíveis é que muita gente lucra em cima da insegurança das pessoas, de vender soluções para problemas que não existem. A indústria da dieta movimenta pelo menos 6 bilhões de dólares por ano.
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Para investigar essa forma de ver a questão – uma mudança de paradigma em que a obesidade deixa de ser doença e em que ser gordo deixa de ser o problema – é que escrevi a reportagem Chega de Dieta, matéria de capa da revista Vida Simples, edição 139, de dezembro. Queria entender um pouco mais sobre a nossa relação com o peso e porque é tão difícil, afinal, controlá-lo. As descobertas foram surpreendentes. Tão surpreendentes que, junto com a reportagem, decidimos lançar uma campanha:#chegadedieta. Porque o primeiro passo para a gente se cuidar mais, e ter mais saúde, é sair do ciclo danoso das dietas.
Olga Vida Simples Chega de Dieta
Algumas das coisas que descobri na reportagem:
Não é preciso ser magro para ser saudável. Muitas pessoas acima do peso ou obesas têm índices excelentes de saúde. Pesquisas mostram que os hábitos, como comer bem e se exercitar, são mais importantes para a saúde do que o peso em si.
Dietas não adiantam. Cerca de 95% das pessoas que fazem algum tipo de dieta – qualquer tipo, das mais mirabolantes às mais sensatas – recuperam o peso em até cinco anos. Dietas funcionam bem para perder peso no curto prazo. Mas, no longo prazo, quase todo mundo ganha o peso de volta.
Dietas podem fazer você engordar. A maioria das pessoas que faz dieta não recupera apenas o peso que perdeu, mas mais um pouco. As dietas bagunçam o mecanismo de regulação de peso do nosso corpo, o “setpoint”, e por isso podem fazer com que engordemos mais do que antes.
Dietas fazem mal. Elas são associadas com várias doenças que dizemos ser causadas pela obesidade, como hipertensão, diabetes e doenças coronárias. Algumas fazem mais mal que outras, e quanto menos individualizadas e mais radicais forem, pior.
A privação é irmã gêmea da compulsão. Se a gente se proíbe de comer algo ou restringe a alimentação, isso gera um desejo incontrolável por essas comidas. O pensamento de que alguns alimentos são “bons” e outros são “ruins” em si é sempre prejudicial.
Ouvir nosso corpo é importante. Se tem algo que podemos dizer sobre nutrição e saúde é que cada corpo é único e tem suas peculiaridades. Alguns alimentos farão bem a algumas pessoas e muito mal a outras. É importante ouvir o corpo, nos apercebermos dos sinais dele, principalmente os de fome e saciedade.
Ser gordo não é moralmente errado. Nós julgamos severamente as pessoas gordas, como se fosse uma escolha ser gordo, como se fosse uma questão de força de vontade. Ainda que fosse – e não é – ninguém teria o direito de nos julgar, avaliar e criticar por isso. O mesmo vale para as pessoas magras – não é bacana julgá-las, ou ao corpo delas.
Ninguém precisa ser saudável se não quiser. Não é da conta de ninguém dar palpite sobre nossa saúde, sobre como levamos a vida. Se, mesmo sabendo que exercícios e uma alimentação mais equilibrada ajudam a melhorar a saúde, você não quiser adotar esses hábitos, a escolha é só sua, de mais ninguém.
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Tem isso – e mais um monte de coisas, como a relação – muitas vezes emocional – que estabelecemos com o alimento. Para modificar a relação que temos com a comida, e com o peso, o primeiro passo é sair desse ciclo: chega de dieta. Aquele número na balança não diz nada sobre você, seu valor, sua saúde. Aceitar-se, entender que tudo bem ter o corpo que se tem, é mais importante. Vamos nos libertar da balança, parar de odiar nosso corpo. E, então, abrir espaço para uma vida mais feliz, com mais auto-aceitação, auto-compaixão. O único peso extra é a culpa.

Jeanne Callegari é editora-assistente da revista Vida Simples e está tentando, cada vez mais, ter uma relação mais pacífica com o peso e a comida.

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